sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Brasil: a Filosofia, seu desenvolvimento e demais perspectivas: o olhar de Bento Prado Jr.


Relembrando as pesquisas realizadas até aqui, notei que muitos filósofos e pesquisadores, até mesmo que não são da Filosofia, como os sociólogos, empenharam-se em pesquisas, congressos e trabalhos para entender a situação da Filosofia aqui no território nacional. Pareceres e mais pareceres foram apresentados e muito discutidos. O ensaio de Bento Prado Jr intitulado “O problema da Filosofia no Brasil”, é mais um a abordar o tema e através do qual me inspirei para fazer este texto, além de me inspirar nas minhas próprias experiências com divulgação filosófica, sobretudo nas redes sociais.
Bento Prado Jr. (1937-2007)

Muitos já foram capazes de perguntar: por que não há uma ‘corrente de pensamento’ genuinamente brasileira? Ou, outra pergunta clássica: ‘Por que hoje não surgem mais filósofos como antigamente?’ O professor Bento Prado discorre que a ideia de uma filosofia nacional recobre habitualmente tanto um preconceito historicista quanto um preconceito psicologista. Mas, enfim, o que podemos pensar através desses termos? Remetendo ao historicismo de autores, entre eles Dilthey, podemos ver que a Filosofia é sempre pensada em forma de um ciclo temporal sucessivo, isto é, várias filosofias ou correntes filosóficas que se sucedem no tempo assim como as inúmeras frases que pronunciamos ao fazer um discurso. Para o autor, isso resulta em uma perda de autonomia em que o filósofo sempre abordará temas já estabelecidos e, assim, não se diferirá do ideólogo.

É óbvio que filosofia e ideologia claramente se diferem, a ideologia é sempre o que vem pela frente de um discurso ou propaganda, ao contrário do que o senso comum costuma dizer, e a Filosofia é como a Coruja de minerva de Hegel, levanta voo ao anoitecer. Mas para Bento Prado essas limitações dadas ao intelectual embasadas com o formalismo português e a sua pragmática deixam seu trabalho corriqueiro. Outro ponto que me atiçou foi quando ele ressalta que o filósofo brasileiro é um consumidor do pensamento estrangeiro, remetendo até mesmo à antropofagia da obra de Mário de Andrade.

Entretanto, partindo desse ponto de vista, isso não quer dizer que aqui não há o Existencialismo, o Marxismo, a Fenomenologia, a Lógica, sim, há! Mas em caráter de divulgação, onde os pesquisadores brasileiros são apenas consumidores da produção autenticamente europeia dos séculos precedentes às suas atuações. Outro ponto, que é de destaque, na análise das perspectivas de dois autores lusitanos (são eles: João Cruz Costa e Álvaro Vieira Pinto) é o caráter realista e pragmático exigido sobre o pensador brasileiro em que é fundamental o engajamento na realidade social e a crítica dela. Na perspectiva pragmática, em termos de finalidade, podemos verificar a exigência sobre o intelectual de mudar a realidade em que está imerso. Assim, ocorre toda uma articulação entre teoria e prática, havendo pouco espaço para a filosofia especulativa no território nacional, lembrando, claro, da Metafísica.

Entre as minhas perspectivas, dentro de um país em que até o saber mínimo, o básico, é precário por parte das pessoas, devido às deficiências da educação, falar sobre a Filosofia sempre será uma tarefa de coragem, mas, sobretudo, uma tarefa muito necessária. É preciso atentar, acho importante ressaltar isso, não apenas falar sobre temas filosóficos, mas, na concepção aristotélica é preciso saber, e bem, o que a coisa é, é preciso entender a realidade tanto a do próprio filósofo, a autocrítica, como dos leitores. É preciso estabelecer um diálogo, uma dialética de igual para igual, remetendo ao legado que Sócrates nos deixou.

Enfim, fiz este texto para até mesmo abrir mais a janela desta discussão e, como já ressaltei, é importante a janela do diálogo estar aberta. Quem quiser conversar mais sobre, estou disponível. É sincero falar que, às vezes, até pensamos na falta de valorização que enfrentamos, mas isso jamais será um motivo para desanimar, visto que filosofamos pela exigência do nosso Dáimon.

"Bento Prado de Almeida Ferraz Júnior (21/08/1937-12/01/2007) é professor emérito do Departamento de Filosofia da USP. Foi aluno de Victor Goldschmidt e Gilles-Gaston Granger, tendo se tornado livre-docente em 1964 com a tese "Presença e campo transcendental - consciência e negatividade na filosofia de Bergson". Cassado em 1969 pelo AI-5, ficou em exílio até 1974 na França, onde escreveu seu livro sobre a retórica de Rousseau. De volta ao Brasil, deu aulas na PUC-SP e, a partir de 1978, na Universidade Federal de São Carlos, onde trabalhou até o final da vida."

(Fonte: página pessoal do autor no Facebook).


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2 comentários:

  1. Foi frustrante pra mim perceber a inexistência da filosofia brasileira, e perceber que isso ocorre por motivos tortos como o ciúmes acadêmico e pela falta de incentivo para publicação de artigos que citem fontes nacionais. Por isso mesmo criei o FilosofiaHoje.com e vou lançar a Revista Filosofia Hoje que dará espaço prioritariamente para artigos que citem autores brasileiros e também com espaço exclusivo para ensaios... Quem sabe esse será um novo começo para a filosofia nacional ;)

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    1. Sim, Fabio! É bom cada vez mais nos empenharmos para abrir esse espaço filosófico no nosso país. Tenho sempre observado o Filosofia Hoje, admirado e tenho gostado das publicações na página do Facebook e no blog. Vamos sair apenas do "consumo", como relatei no texto. Em frente! ;)

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