segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Considerações sobre a necessidade da Metafísica no Existencialismo Sartriano



Estamos cientes que o “O Existencialismo é um Humanismo”, uma conferência adaptada por Sartre ao público leigo em filosofia, para expor o básico dos princípios existencialistas, além de defendê-los das críticas feitas com afinco por parte de católicos e marxistas da primeira metade do século XX, foi uma obra básica, cabível a introduções ao tema. Sartre foi o único filósofo a aceitar que sua doutrina fosse intitulada como “Existencialismo”. O meu foco, neste texto, será o “O Ser e o Nada”, uma obra magna de Sartre, onde ele expõe temas que são as raízes da filosofia existencial, da psicologia e da psicanálise existencial dentro de um caráter muito mais aprofundado. Além, é claro, de traçar o paralelo com a metafísica, a ciência de tudo o que é enquanto é.



Dentro da metafísica, a aproximação de “O Ser e o Nada” é em relação aos modernos, à metafísica moderna, entre eles, Descartes, e a famosa dicotomia sujeito-objeto. De acordo com as nomenclaturas expostas no livro, o sujeito é, ao mesmo tempo, Em-si-Para-si, isto é, concomitantemente, ele é, de acordo com a fenomenologia, uma influência que adveio de Husserl, um objeto que aparece à nossa percepção, tido como Em-si, no mundo, e a nossa capacidade psicológica é incapaz de alterá-los. Já o Para-si, é a consciência, isto é, dotado de intencionalidade, o que nos constitui por sua projeção ao que nos é exterior, assim somos o que não somos e não somos o que somos, visto que a consciência não possui uma capacidade de repleção própria, a não ser projetando-se ao mundo com constância para ‘ser’ algo, eis a maior explicação para a máxima de Sartre: “O Homem está condenado à liberdade”. Ela é fundamento de seu próprio nada. Quando explico esse tema aos meus leitores costumo fazer uma analogia com uma frase que elaborei: O Para-si projeta-se aos fenômenos do mundo assim como o vento dirige-se aos galhos de uma árvore e, ao balançá-los, demonstra a sua existência.


Algo que não pode ficar de lado ao se falar da estrutura do existencialismo é o papel relevante da ontologia, esta, usuária do método fenomenológico. Para ela, a intuição vale para descrever a estrutura tanto do Para-si quanto do Em-si. A percepção, na fenomenologia, tem um importante papel ao falarmos na transcendência. Quando focalizamos o nosso olhar em um objeto, notamos as suas características por um fator: ele é transcendência transcendida. O Em-si é algo transcendente, isto é, a apreensão de seus atributos se dá por via de sua ida à consciência em que esta, ao mesmo tempo, é preenchida e esvazia-se. Em-si e Para-si estão separados por um quesito, e ele compõe o título da obra magna de Sartre: o nada.


A metafísica, captando as definições anteriores de Aristóteles, uma ciência de caráter ineludível, incontornável, permeia as suas buscas em questões originárias, a saber: cabe a ela investigar o surgimento do Para-Si pelo Em-si e o sentido de tal aparição, de tal surgimento. Podemos atribuir a ela o mesmo valor dado por Aristóteles, de uma ciência parasita, pois aqui ela também pode verificar a aplicação do princípio da não-contradição (uma coisa não pode ser e não ser sob o mesmo aspecto ao mesmo tempo) ou o princípio do terceiro-excluído (uma afirmação é apenas verdadeira ou falsa, não havendo um terceiro valor de verdade para a mesma). O Para-si é capaz de abstrair os elementos presentes no mundo ao mesmo tempo que os outros também podem nos apreender, visto que também somos ser-no-mundo, utilizando-se da terminologia heideggeriana: Dasein.


Ser-no-mundo é estar lançado nele, implicando questões éticas e morais, visto que o mundo é um verdadeiro campo de ação. E o existencialismo de Sartre, mesmo por ser caracterizado como ateu, não elimina Deus totalmente da jogada, ao menos a sua ideia, visto que a existência da ideia de Deus é o mínimo necessário, funciona como um pré-requisito, uma figura perfeita onde os considerados “bons valores” proclamados pelo homem podem fazer referência, entre eles a honestidade e a caridade. O homem, ser corruptível, não poderia servir como uma referência aos valores ético-morais seguidos pelo homem, que pela liberdade, pelo ato individual, podem ser a quaisquer momentos rompidos. Isto simplesmente demonstra que a filosofia existencial vai para além da metafísica e da ontologia, adentrando na filosofia moral.


Enfim, faço aqui um pequeno esboço e que por via da ampliação do diálogo, maiores e melhores trabalhos possam ser feitos. Visto que a filosofia é assim, com ela damos o ponta- pé inicial e por via do estudo, sem deixar de lado a investigação conjunta acompanhada do elenkhós socrático, aprendemos, redescrevemos, reconstruímos e formulamos nossas teses. E, em relação ao existencialismo sartriano, já disse Gerd Bornheim, um expoente dessa corrente filosófica e professor falecido da Filosofia da UFRJ: “O Existencialismo é das doutrinas mais características de nosso século”.

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